quinta-feira, 15 de maio de 2014

Linda Camila ... se poesia é sentimento, dor também é poesia ...



 Vou tentar responder a pergunta que têm me feito e faz com que eu reviva esses últimos 60 dias.
O que aconteceu com minha filha Camila Fitoussi ???
Em 16 de março último consegui convencê-la a procurar um Pronto Socorro pois a meses vinha com cansaço intenso, dores forte no peito e cabeça. Começou nossa maratona. De 16 de março a 29 de abril passou por 3 hospitais, 2 internações, uma bateria de remédios e exames na busca de diagnósticos como tuberculose, pneumonia atípica, coqueluche, doença epidemiológica e afins. A cada dia sua situação agravava mais, e aos poucos as dores foram aumentando impossibilitando que ela conseguisse falar, comer ou caminhar direito. Os fazia, mas lentamente. As drogas foram aumentando dia a dia, e as doses de morfina não estavam resolvendo mais. No dia 29/04 foi diagnosticado câncer que havia atingido pulmão e um olho. 


Os médicos tem uma preconceito ao achar que uma jovem de 19 anos pode ter câncer, e relutaram esse diagnóstico até o último momento. Sofreu um derrame pleural após uma tomografia que encontrou um tumor no rim. Dia 1º de maio foi transferida para o ICESP - Instituto do Câncer, para iniciar tratamento, mas foi diagnosticado um derrame no pericárdio (membrana que envolve o coração) onde, ou fazia a cirurgia ou podia ter uma parada cardíaca. Foi para a cirurgia na esperança de que voltaria e que se trataria. Não acordou mais. Ficou sedada e em coma induzido até o dia de ontem (13/05) onde após a falência do rim e a tentativa de hemodiálise, não resistiu mais. Passei todo esse período pedindo saúde e recuperação para minha filha. E ela lutou bravamente todos esses dias.

Na madrugada de seu falecimento, fiquei me perguntando se pedir saúde pra ela, estava sendo por ela ou por mim. Depois de 4 paradas cardíacas que não se sabia quais sequelas deixariam, vários tumores que nem tinham conseguido começar a tratar, me perguntei como seria a vida dela se sobrevivesse a tudo isso. Lembrei que ela me disse que essa história era dela, que nem tudo era culpa minha, e que isso era ela quem tinha que passar. Percebi que somos instrumentos para nossos filhos, e nosso desafio é dar a eles orientações e oportunidades para uma vida o mais feliz e possível, embora as escolhas sejam deles. Percebi ainda que é muita prepotência querer ser mais que o Criador tentando evitar a morte pois esse poder não está em nossas mãos. Se nossa vida não nos pertence, que dirá a do outro? Me dei conta que não posso me revoltar com Deus, pois essa história foi dela. Por mais que eu a ame, que seu sorriso me preenchesse, que sua palhaçada alegrasse meus dias, e que nossas brigas me ensinasse a ser uma pessoa melhor, eu não podia viver isso por ela. E ela fez questão de dizer isso a mim para que eu não sofresse e me tranquilizasse. Lidar com nossa finitude é muito dificil, mas isso é inevitável para todos. Ao Eterno Criador, eu agradeço o privilégio de ter sido mãe dessa pessoa tão especial, que me ensinou tanto, e que sei ter alegrado a vida de tanta gente. Amava todos seus amigos, e sei o nome de muitos deles, e sinto que também foi muito amada. Vou lamentar? Não! Vou agradecer, pois ter um ser que nunca reclamava de nada, que conseguia sorrir em meio as maiores dificuldades da vida, foi um privilégio, mesmo que por poucos 19 anos. Que o Eterno Pai me dê sabedoria para ter aprendido com essa vida que passou por mim tudo aquilo que ela tinha de bom. Não tinha defeitos? Claro que sim. Mas eu a amo do jeitinho que ela foi e eternamente será para mim. A saudade será eterna, e esse vazio nunca será preenchido. O espaço dela em minha vida, é só dela.
- Anna -